Jornal de Noticias - O disco ?Nós? homenageia cantores portugueses dos anos 50, 60, 70? Porquê essa selecção?
Anabela - O disco homenageia grandes canções, compositores e intérpretes que marcaram indelevelmente a música ligeira nestas três décadas. Procurei distinguir alguns dos maiores intérpretes que fizeram carreiras incríveis e que são uma referência para mim, como é o caso da Simone de Oliveira, Paulo de Carvalho, Fernando Tordo, Luís Piçarra, Tony de Matos, entre outros.
Jornal de Noticias - Considera algum tema especial?
Anabela - São todas grandes canções e é muito difícil escolher uma. Aliás foi tarefa árdua chegar a estas quinze canções, pois ficaram tantas de fora. Mas, há uma música que me toca especialmente quando a interpreto, que é “ De degrau em degrau”. A música tem uma grande tensão e emoção e o próprio arranjo é magnífico!
Jornal de Noticias - Foi uma forma especial de marcar também os seus 25 anos de carreira
Anabela - Posso dizer que sim. “Nós” é um disco que há muito desejava concretizar. Reuni num só disco algumas das melhores canções de alguns dos maiores cantores portugueses, que foram recheando as minhas memórias e moldando também o meu gosto musical. Por isso fez sentido que, ao fim de 25 anos, quisesse homenagear, regravando estas canções tão especiais para mim e que as pudesse reinterpretar com muita honra e prazer.
Jornal de Noticias - Que balanço faz deste quarto de século?
Anabela - São 25 anos de muitas coisas boas. Passei por vários estilos musicais, gravei o meu primeiro disco com 9 anos e conto com nove discos gravados. Ganhei o Prémio da “Grande Noite do Fado”, o Festival da Canção, o prémio internacional “Danny Kaye Award” para Melhor Intérprete e representei Portugal em vários festivais internacionais. Paralelamente, interpretei grandiosas personagens no teatro musical, dei voz a vários personagens de desenhos animados e fiz inúmeros espectáculos que me deram uma enorme experiência de palco. O balanço é muito positivo, sinto-me orgulhosa por tudo o que fiz, por todas as pessoas que encontrei e tudo acontecer de uma forma não planeada.
Jornal de Noticias - Aos 16, participou no Festival da Canção. Esperava vencer?
Anabela - Não esperava ganhar mas sabia que a musica era forte mas tinha alguns concorrentes que tinham grandes possibilidades de ganhar, como era o caso do José Cid, esse grande cantor e compositor do qual canto duas canções no álbum Nós. Desde muito nova que eu ambicionava participar no festival da canção e fiquei muito feliz quando concretizei esse sonho e sobretudo quando ganhei! Foi uma noite muito especial e desde então tudo mudou!
Jornal de Noticias - E como descreve a experiência na Eurovisão que se seguiu?
Anabela - Foi uma experiencia emocionante, de grande responsabilidade. Tinha uma grande comitiva da RTP e apoio do povo português e dos media. Foi muito giro, todo o contacto com os diversos países que participaram. Foi emocionante ter tido a pontuação máxima de dois países, a Holanda e Espanha. Alcancei o 10º lugar. Considero que foi uma pontuação positiva. Recordo-me que nos minutos antes de entrar em palco senti uma adrenalina enorme e um entusiasmo, mas ao mesmo tempo, o peso da responsabilidade.
Jornal de Noticias - Começou a cantar aos 8 anos. Que memórias guarda desse tempo?
Anabela - Aos 8 anos comecei a cantar música infantil e a concorrer a muitos festivais infantis por todo o país. Integrei um grupo cultural da zona onde vivia e fazíamos alguns espectáculos. Era muito divertido. Gostava de cantar e trabalhar em grupo.
Jornal de Noticias - Ainda era muito nova... Como é que conciliava os estudos?
Anabela - Sempre fui muito organizada e tinha a noção que os estudos eram muito importantes. Cheguei a levar os livros para os espectáculos. Lembro-me que, algumas vezes, aconteceu o apresentador me estar a anunciar e eu a fechar o livro...
Jornal de Noticias - Licenciou-se em Psicologia. Chegou a exercer?
Anabela - Não, embora tenha tido experiências em estágios profissionais, tomando contacto com várias realidades.
Jornal de Noticias - A participação no Festival da Canção abriu-lhe as portas para os musicais e para a televisão. Na altura, como encarou esse novo mundo?
Anabela - Encarei como um desafio e como algo de grande importância. Reflectia o meu empenho e esforço profissional e o gosto do público por mim. Acho que não tive a noção do que me estava a acontecer, dando por mim a questionar-me: “Isto é mesmo verdade?”
Jornal de Noticias - Algum dia pensou também representar?
Anabela - Sim, quando era miúda gostava muito de representar. No entanto, quando a música começou a ter um maior impacto na minha vida, a representação sempre ficou mais de lado.
Jornal de Noticias - Foi com Filipe La Féria que se estreou em palco. Mantiveram uma relação de muitos anos, mas parece que "Fado- História de um povo# mexeu com ela. É verdade?
Anabela - Considero que é necessário separar as coisas. O meu projecto “Nós” e o musical tornaram-se incompatíveis e tive que sair. No entanto, a minha admiração pelo Filipe continua a ser enorme e, com ele, tenho aprendido muito ao longo destes anos.
Jornal de Noticias - Voltar a trabalhar com ele é ainda uma possibilidade?
Anabela - É natural que eu deseje trabalhar com o Filipe La Féria no futuro. Penso que o sentimento será recíproco.
Jornal de Noticias - Aos 33 anos, já conta com um currículo extenso. Será que ainda há algo por fazer?
Anabela - Claro que sim. Já fiz muitas coisas e quero fazer muitas mais. Mais música, mais teatro, e outras coisas que nunca fiz e adorava fazer. Por exemplo, gostava de explorar mais o meu lado de actriz, no teatro, cinema e televisão."